O Jornal O Bandeirante chega às suas mãos para levar informação sobre o distrito, Porto Velho, Rondônia e sobre o país.
Como não podia deixar de ser, vamos também falar da gente que constrói, com seu trabalho de todos os dias, o Distrito de União Bandeirantes.
Em cada edição, vamos procurar mostrar a história de pioneiros e pioneiras, gente que chegou nessa terra de oportunidades e arregaçou as mangas para trabalhar duro.
São pessoas como todos vocês, como todos nós, que temos muitas histórias para contar, várias dicas para compartilhar, e incontáveis experiências para dividir.
O Jornal União Bandeirantes inicia esta saga de pioneiros e pioneiras com a história de Manoel Pereira Neves, 66 anos, conhecido por todos de União como o “Baiano”.
Gente de rocha, unida, enfrentando os desafios de criar uma nova realidade
Como muitos dos pioneiros de Rondônia, Manoel Pereira Neves, o “Seu Baiano”, conta que chegou a União Bandeirantes em 2007. Naquela época, aos 49 anos, com muita força de vontade e garra para trabalhar.
A primeira coisa que fez foi trabalhar com gado. A terra era promissora, tinha espaço e oportunidade. Mas quem pensa que as coisas eram fáceis, se engana. Seu Baiano recorda, talvez com um pouco de saudade e uma grande dose de orgulho, a trajetória de muita perseverança.
Infraestrutura
“Quando a gente chegou aqui isso era uma tristeza. Não tinha estrada, não tinha nada”, recorda a total falta de infraestrutura na região em que hoje está instalado o distrito.
Mesmo que até hoje as terras de União Bandeirantes não sejam atendidas com a cobertura de telefonia celular, houve tempo que a comunicação era ainda mais precária. “Não tinha telefone, tinha aqueles ‘orelhão’, lembra? O povo entrava naquelas filas…”, explica o pioneiro. Ele olha para longe e aponta, descrevendo com um gesto o quanto era extensa a carreira de gente esperando a oportunidade de fazer um telefonema. “Era daqui até aquele barracão lá, era uma dificuldade, era uma briga para conseguir fazer uma ligação”, recorda, com um sorriso.
“Nessa vila aqui só quem tinha energia era quem tinha um motorzinho estacionário. Era muito mais dificil, mas era tudo enfrentado por um povo de rocha”, resume Seu Baiano, deixando claro o orgulho de ter compartilhado aquele tempo com outros pioneiros, tudo gente de fibra. “O povo tinha uma alegria no rosto, e força de vontade pra trabalhar”.
Mas chegou um tempo em que Manoel Pereira Neves passou a sentir o cansaço do tempo. Foi quando ele parou para pensar e fazer e refazer as contas sobre a criação de gado.
Na ponta dos dedos
Seu Baiano é famoso em União pelo tino nos negócios baseado na velocidade de fazer as contas de cabeça. Ele se orgulha de ter na ponta dos dedos os cálculos do custo e do lucro da pecuária. E não é brincadeira.

“A conta do boi é simples demais. Você hoje no boi tem que ser muito bom para poder ter um bom lucro por hectare”, exemplifica. Ciente de que não estava ficando mais novo, Seu Baiano voltou seus olhos para o futuro, e o futuro, diziam suas contas, era o café.
O caminho certo era o plantio do café
“Era bom demais”, explica o Seu Baiano a expderiência de ter chegado de Jaru na terra que escolheu para abrigar a força de seu trabalho e construir vida nova para a sua família.
“Quando cheguei por aqui já foi para trabalhar com boi. Desde 2008 pra cá, já era um lugar bom, e só foi melhorando”, relata. Ele conta que a terra do distrito era hospitaleira para quem tinha vontade de trabalhar.
“No início era muita lavoura, mas daí o povo se empolgou, e começar a trabalhar com o boi”, recorda. Mas não era apenas boi. União Bandeirantes gerou oportunidade de trabalho para muita gente com vários trabalhos diferentes. Teve a madeira, também, que deu um impulso muito grande para a região.
Mas Seu Baiano previa que o trabalho com gado estava chegando ao fim para ele e apostou no café. Era a forma correta de deixar para os três filhos uma empresa sólida, para o plantio e o beneficiamento do café. E assim foi feito.
Com muita garra e experiência, Seu Baiano mostra o papel social do café
Hoje, é difícil passar por União Bandeirantes sem tomar conhecimento da lavoura de café de Seu Baiano. Na hora em que essas palavras são escritas, o café plantado nas terras dele estão na terceira florada, com um rendimento invejável.
A reportagem do Jornal O Bandeirante visitou Seu Baiano e viu o café na lavoura, o café colhido, o café secando ao calor de fornalha, jogando no ar o aroma mais que característico do empreendimento bem feito.
“O papel social do café é incrível”, explica Seu Baiano, fazendo um gesto amplo, como se quisesse abraçar toda a terra onde o café floresce em suas terras. “Para você ter uma ideia, hoje, tem 60 pessoas trabalhando aqui, nessa fazenda, com café. Se fosse boi, era só eu. Eu, com 66 anos de idade, eu mesmo cuidaria dos bois”, detalha.
As pessoas foram chegando para trabalhar com Seu Baiano e uma foi chamando a outra. Ele conta que vários que estão lá trabalhando com ele vieram atraídos por testemunhos de prosperidade de seu trabalho.
Empolgação
“Eu tenho uma felicidade muito grande, por exemplo, chegando meio-dia, quando vejo todo o pessoal que trabalha aqui, almoçando, reunido, e empolgado com a plantação”, destaca, enquanto confere alguns grãos de café retirados das plantas. É inegável a sensação de que Seu Baiano faz um serviço bem feito.
O futuro?
É quando a reportagem do Jornal O Bandeirante faz um último questionamento: “Seu Baiano, e o futuro do distrito? Essa terra ainda pode receber mais gente como recebeu o senhor? Com tanta oportunidade?”
“União é uma terra onde as pessoas têm pequenas propriedades, onde muita gente trabalha com lavoura de subsistência.
Dessa forma, querer insistir na pecuária pode ser uma decisão errada para alguns”, opina. O custo do aluguel do pasto é alto e é contra indicado pelo veterano, que já trabalhou com boi assim que chegou ao distrito. “Eu penso que se o lucro da pecuária afinou e ficou bem fininho, é hora do pessoal mudar a cabeça e não ficar numa coisa só. Pois se não tem lucro, não tem movimento”, diz Seu Baiano, sugerindo um caminho.
“Então vamos, por exemplo, para a pimenta do reino. É um grande negócio. O Povo ainda não atentou, mas a pimenta é o ouro preto, né?”, questiona. Mas de uma coisa, seu Manoel Neves não tem dúvida: União Bandeirantes tem tudo para receber bem novos pioneiros.