O bispo evangélico estava manifestado no espírito de “Kátia Flávia, a godiva de Goiânia”, fazendo job gospel pelas ruas da cidade, satiriza Ricardo Nêggo Tom
Os roteiristas da história deste país merecem um Oscar. Apesar da naturalização da barbárie e das aberrações evangélico bolsonaristas na nossa sociedade, quem poderia imaginar que um pastor se travestiria de garota de programa para fins “investigativos”? O que estaria “investigando” o autoproclamado bispo Eduardo Costa? Estaria ele procurando algum varão que se desviou de sua igreja? Ou será que ele estava atrás do cajado de Moisés que sumiu no templo? Ele não explicou muito bem o objetivo da “investigação pessoal” que o fez usar uma peruca loira, vestir uma calcinha minúscula e se esconder debaixo de uma árvore, mas parece que não foi a primeira vez que o espírito investigativo possui o seu corpo.
Vizinhos e conhecidos do tal “bispo” dizem que ele já foi visto outras vezes manifestado no espírito de “Kátia Flávia, a godiva de Goiânia” pelas ruas da cidade, e que sua esposa já o teria flagrado num “exocet” de calcinha vermelha dentro de casa. No vídeo postado nas redes sociais para se justificar junto aos seus fiéis, Eduardo Costa – que também é cantor, tal qual o seu homônimo da música sertaneja – diz que “de forma errada, acabei colocando uma peruca e um short para tentar localizar um endereço que eu precisava”, ignorando o fato de que uma simples busca no Google Maps teria lhe poupado tamanha vergonha e constrangimento.
Seres maldosos já estão dizendo que durante a “investigação”, a musa loira genérica de Fausto Fawcett enviou pelo rádio da polícia a seguinte mensagem: “Alô, Igreja! Eu tô ungindo! Um Exocet (Calcinha!) Um Exocet (Calcinha!)”. Agora eu quero ver qual profeta terá o poder de expulsar o pastor da hipocrisia evangélica do corpo da “louraça Belzebu de calcinha antiaérea” que prega o evangelho investigativo pelas ruas escuras de Goiânia. Sem puritanismo ou qualquer juízo de valor moral, é preciso levantar um debate sério na sociedade com relação ao número absurdo de pessoas que se auto proclamam pastores, bispos e profetas, e saem por aí se dizendo ungidos de Deus, propagando ignorância, distopia, preconceito, fundamentalismo e insanidades em geral, sob a égide do evangelho de Cristo.
Alguns desses falsos profetas, por exemplo, já deram a sua benção para o influenciador Hytalo Santos, denunciado ao Ministério Público por erotizar crianças e adolescentes nas redes sociais. Uma falsária mirim chamada Victória Souza, aparece em um vídeo “profetizando” para Hytalo durante a sua festa de aniversário. Ao seu lado, ouvindo atentamente a pregação da mini charlatã, estava Kamylinha Santos, uma das adolescentes aliciadas por Hytalo e pivô das denúncias feitas contra ele. Outra pastora, Renálida Carvalho, também conhecida por suas falsas profecias na internet, aparece em outro vídeo ganhando um carro avaliado em 200 mil reais do influenciador, que diz que Deus tocou o seu coração para presenteá-la com valoroso mimo.
O influencer evangélico e erotizador de crianças e adolescentes é uma prova viva de que a igreja evangélica está morta, e que não passa de uma prostituta que se vendeu ao capitalismo, e passou a comercializar o corpo de Jesus como se fosse o seu para degenerados da fé. Em mais um vídeo do escatológico mundo gospel, um pastor de nome Leonardo Salles, que teria tido um romance com a funkeira MC Pocahontas, aparece “profetizando” um reboliço na vida da adolescente Kamylinha e prometendo que, a partir do que Deus faria na sua vida, ela deveria estar preparada para receber. Eu não sei se Deus enviou a mensagem incompleta para o tal profeta, mas Hytalo Santos também estava presente ao culto e foi abraçado carinhosamente pelo mesmo pastor, enquanto a adolescente caía de joelhos no chão chorando. Uma ode a bizarrice e a naturalização da insanidade sob um cristianismo de conteúdo nocivo e viral. Tanto no sentido digital, como físico.
Não precisamos de mais evangélicos, precisamos de mais seres humanos mentalmente saudáveis e capazes de respeitar ao próximo como a nós mesmos. Homens e mulheres que possam viver suas vidas sem amarras, e sem querer amarrar os outros. Pessoas que possam gozar de sua vida religiosa e sexual sem conflitos e sem hipocrisia. Gente que não seja hipócrita o suficiente para condenar de dia, o que eles fazem a noite. E ainda cabe mais uma reflexão com relação a unção e a autoridade de homens, mulheres, e até crianças e adolescentes, travestidos de representantes de Deus na terra. Até quando seres humanos adultos se submeterão a um culto ao personalismo apresentado como inspiração divina? Se a adultização de crianças está em debate, também precisamos incluir na pauta a infantilização de adultos a pretexto da fé. E não há nada mais ridículo. Oremos por transformação social, ou não sobrará calcinha sobre calcinha. Amém?
AUTOR: Ricardo Nêggo Tom. Músico, graduando em jornalismo, locutor, roteirista, produtor e apresentador dos programas “Um Tom de resistência”, “30 Minutos” e “22 Horas”, na TV 247, e colunista do Brasil 247
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