Toda eleição é a mesma coisa: os petistas fingem que estão fazendo alianças e seus aliados fingem que confiam na divisão de poder
Toda eleição é a mesma coisa: o PT finge que está fazendo alianças e seus aliados fingem que confiam, na esperança de que os petistas dividirão o poder quando confrontados com a necessidade de compartilhar os frutos da vitória para manter de pé as alianças que firmaram.
Ninguém pode dizer que se surpreendeu, portanto, com a forma como o partido do presidente tratou nos últimos meses os presidentes da Câmara e do Senado, mesmo diante de todos os acenos e auxílios oferecidos por Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP) ao cambaleante governo Lula.
O egoísmo do PT já tinha ficado claro mesmo para os mais desatentos quando a prometida reforma ministerial foi trocada por uma campanha eleitoral antecipada, que levou Gleisi Hoffmann à Secretaria de Relações Institucionais e Alexandre Padilha ao Ministério da Saúde.
Ali, no início do ano, o governo já tinha indicado que não contava mais com aliados no Congresso Nacional. O objetivo seria manter a gestão viva até o fim, para ter alguma perspectiva de reeleição. O problema é que, para conseguir isso, o governo precisa de aliados no Congresso Nacional.
Pendurado no STF
Lula preferiu se escorar no apoio do Supremo Tribunal Federal (STF), e conseguiu até reverter uma derrota no Congresso, por meio de uma liminar do ministro Alexandre de Moraes que manteve o aumento do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF).
É muito difícil manter um governo pendurado no STF, contudo.
Após mais uma derrota no Congresso, na aprovação do PL Antifacção na Câmara, os governistas já deveriam ter se convencido disso, mas seguem reclamando publicamente e cobrando fidelidade de Motta e Alcolumbre, apostando, aparentemente, em algum trunfo que possa vir do STF.
O resultado é que Motta rompeu com o líder do PT na Câmara. Lindbergh Farias (RJ), e Alcolumbre rompeu com o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (BA).
Senado
No Senado, o problema é que Lula indicou para o STF Jorge Messias, advogado-geral da União. A escolha é prerrogativa do presidente, argumentam os governistas. Mas, quando o presidente faz uma escolha pensando em si mesmo, os senadores também se sentem na condição de fazer o mesmo.
Rodrigo Pacheco (PSD-MG), outro aliado magoado com o governo, chegaria ao STF como um ministro do Senado. E não faltam motivos para os parlamentares buscarem alguma proteção do STF hoje em dia— o maior deles é o inquérito sobre emendas parlamentares conduzido por Flávio Dino.
Enfim, os petistas não sabem brincar. E, mesmo diante da prisão e do consequente enfraquecimento de Jair Bolsonaro, tem cada vez menos gente em Brasília querendo brincar com o PT.
Por: Rodolfo Borges: Jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). Trabalhou em veículos como Correio Braziliense, Istoé Dinheiro, portal R7 e El País Brasil.
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