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Ao propor descumprimento de condenação resultante de um processo que seguiu ritos legais, Tarcísio expõe fraqueza e desconfiança no seu próprio cacife eleitoral
Desde terça-feira (03/09), Tarcísio de Freitas se alinhou ao deputado autoexilado Eduardo Bolsonaro na cruzada pela impunidade de Jair Bolsonaro no processo referente à tentativa de golpe de Estado.
Na prática, trata-se de uma dobradinha da extrema-direita que conecta a Casa Branca, em Washington, diretamente ao Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, com o objetivo de interferir nas decisões da mais alta Corte do país. E, ao fim e ao cabo, no processo eleitoral de 2026.
No início de setembro, em Brasília, Tarcísio reuniu-se com parlamentares do Centrão e da extrema-direita para articular um projeto de anistia ao seu criador e mentor. Mais do que isso, pressionou pessoalmente o presidente da Câmara Federal, Hugo Motta, a pautar a votação da proposta assim que a sentença de Bolsonaro for definida pelos ministros da Primeira Turma do STF, na semana que vem.
Em entrevista a jornalistas, o governador de São Paulo declarou que não confia na Justiça brasileira e fez sua primeira promessa de campanha: se eleito, o primeiro ato será conceder indulto a Jair Bolsonaro.
Com o escancaramento de seu apoio ativo à impunidade para os golpistas de 8 de janeiro e, mais especialmente aos seus colegas militares e o próprio Jair Bolsonaro, Tarcísio se lança candidato à Presidência da República. Poderia então adotar como slogan da campanha “Trump acima de tudo, Jair Messias acima de todos”.
Ao propor o descumprimento de uma condenação resultante de um processo que seguiu todos os ritos legais, Tarcísio expõe fraqueza e desconfiança no seu próprio cacife eleitoral. Mais uma vez, ajoelha-se diante do seu criador para tentar obter os votos da base fanática que apoia cegamente Bolsonaro. Um sinal ruim para a elite perfumada e a mídia corporativa, que já estão em campanha por Tarcísio.
É improvável que a anistia seja aprovada pelo Congresso Nacional. Mesmo assim, trata-se de mais um passo na corrosão de nossa democracia, da fascistização do Brasil. E é, no mínimo, alarmante constatar que grande parte da classe política não tem compromisso algum com a Constituição e com a defesa do Estado Democrático de Direito, mas tão somente com os próprios interesses financeiros e paroquiais.
Mais grave ainda é perceber que vivemos uma nova tentativa de golpe de Estado, agora, com articulação escancarada do governo de Donald Trump para retomar o controle do que os EUA ainda chamam de seu quintal. Para isso, contam com o clã Bolsonaro e a colaboração inestimável de políticos que traem o país em troca do apoio de uma massa de idiotas úteis.
O Brasil não pode se curvar diante da chantagem de Trump, do golpismo bolsonarista e da submissão entreguista de políticos que traem a Constituição. Cabe a nós, cidadãos democratas, transformarmos a indignação em ação. Nas ruas, nas redes e nas urnas, precisamos erguer um muro de resistência contra o golpismo, o solapamento da nossa soberania e a corrosão da democracia.
Autor: Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e Diretor de Redação do Brasil 247