José Perdiz de Jesus fala à CPI do Senado sobre a necessidade de provas concretas
O presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), José Perdiz de Jesus, afirmou nesta quarta-feira (22) que relatórios de Inteligência Artificial (IA) não são suficientes para comprovar manipulação em jogos de futebol, contrapondo a defesa feita pelo dono do Botafogo, John Textor.
Textor havia acusado jogadores do São Paulo de não se esforçarem na derrota por 5 a 0 para o Palmeiras, em outubro de 2023, um resultado que prejudicou o Botafogo na disputa pelo título. Ele baseou sua acusação em uma análise de IA que apontou jogadas suspeitas, sugerindo falta de empenho dos jogadores.
Uso de IA na Justiça Desportiva
Durante uma sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado, que investiga manipulações no futebol brasileiro, José Perdiz argumentou que a justiça desportiva não pode se basear apenas em IA para determinar manipulação de jogos. “A justiça desportiva não pode aceitar isso, assim como a justiça comum também não aceita. A IA é muito suscetível a interpretações”, explicou.
O procurador-geral do STJD, Ronaldo Botelho Piacente, também falou à CPI e concordou com o presidente do tribunal. Ele criticou a empresa de IA contratada por Textor, a Good Game, que analisou a performance dos jogadores. “A Good Game apresenta relatórios que, por si só, não comprovam manipulação de resultados”, afirmou Piacente.
Responsabilidade e Provas
Piacente ressaltou que é irresponsável afirmar manipulação de resultados apenas com base em análise de IA. “Isso coloca em suspeita não só os atletas, mas também árbitros e a própria competição”, completou.
Para ele, qualquer acusação desse tipo precisa ser acompanhada de outras provas e indícios, como quebras de sigilos que mostrem envolvimento financeiro. “Parece que ele quer justificar a derrota dele em campo”, disse Piacente.
José Perdiz de Jesus informou que um inquérito foi aberto para investigar a denúncia de Textor. “Vamos ouvir jogadores, árbitros e todos os envolvidos”, completou.
Reação do São Paulo
O presidente do São Paulo Futebol Clube, Julio Cesar Casares, também foi ouvido pela CPI. Ele afirmou confiar nos seus jogadores e que acionou o Judiciário para que Textor prove suas acusações. “Presumimos a inocência e, conhecendo os meus atletas, acredito neles. Mas, uma apuração deve avançar”, comentou Casares.
Opiniões dos Senadores
O relator da CPI, senador Romário (PL-RJ), disse não ter identificado nada de estranho no jogo entre Palmeiras e São Paulo. “Com a minha experiência, posso afirmar que não vi nada de diferente nesses cinco gols do Palmeiras contra o São Paulo”, avaliou.
Já o presidente da CPI, senador Jorge Kajuru (PSB-GO), afirmou que, se Textor não provar suas acusações, ele deve ser banido do futebol brasileiro. “Se ele não provar nada, minha condenação será o banimento do futebol brasileiro”, declarou.
Relatório de John Textor
No final de abril, John Textor apresentou à CPI um relatório de cerca de 180 páginas com dados sobre supostas irregularidades em jogos do Campeonato Brasileiro de 2022 e 2023, baseadas em análises da empresa francesa Good Game, que usa IA para avaliar possíveis manipulações.