Marcos Rocha já demonstrou habilidade em converter promessas em capital eleitoral, mesmo que jamais cumpridas. Ludibriou os eleitores em duas campanhas e, agora, parece confiar na mesma fórmula para garantir espaço no Senado
Projeto político do governador inclui a mulher, Luana Rocha, e o irmão, Sandro Rocha. Se tudo correr como ele planeja, serão mais quatro anos de boa vida para a família Rocha
No último ano de seu segundo mandato, o governador de Rondônia, Marcos Rocha (União Brasil), se prepara para deixar o cargo em abril de 2026 com o objetivo de disputar uma das duas vagas ao Senado Federal. O movimento político é esperado, mas o que surpreende – ou talvez nem tanto – é a forma como o atual chefe do Executivo estadual conduziu, ao longo dos últimos anos, promessas que jamais saíram do papel e decisões que colocam em dúvida a seriedade de sua gestão.
Reeleito com base na promessa de construção de um Hospital de Urgência e Emergência para substituir o obsoleto e sobrecarregado João Paulo II, Rocha transformou um compromisso de campanha em peça publicitária sem lastro real. Por meses, o projeto foi alardeado como solução definitiva para o caos na saúde pública. O discurso, entretanto, não se sustentou. O plano foi abandonado sem explicações detalhadas à sociedade, e os valores investidos até então permanecem obscuros. Órgãos como o Tribunal de Contas do Estado e o Ministério Público seguem silenciosos, sem cobrar a devida apuração do uso de recursos públicos nessa “obra fantasma”.
Como se não bastasse, o governador reapareceu recentemente com uma proposta ainda mais controversa: privatizar a gestão da saúde estadual. A ideia, apresentada sem qualquer debate público ou transparência, sugere a transferência de bilhões de reais para entidades privadas que assumiriam o comando do sistema de saúde. A iniciativa abre brecha para suspeitas de favorecimento, dado o histórico de decisões tomadas a portas fechadas. O receio é que se trate de um jogo de cartas marcadas para beneficiar grupos pré-definidos com acesso ao poder.
Paralelamente, Marcos Rocha conseguiu aprovar na Assembleia Legislativa um pacote de empréstimos que gira em torno de R$ 1 bilhão, mesmo diante da proximidade das eleições de 2026. Chama a atenção que a saúde – área mais crítica e onde suas promessas mais fracassaram – não está entre os setores contemplados com os recursos. O foco será, supostamente, a infraestrutura viária, o que levanta questionamentos sobre a real destinação do montante e a capacidade de execução das obras em ano eleitoral.
O contexto político também não passa despercebido. O governador deve disputar o Senado, sua esposa, Luana Rocha, pretende concorrer a uma vaga na Câmara Federal, e o irmão, Sandro Rocha – recém-chegado de uma controversa “missão oficial” à Europa bancada com dinheiro público –, articula uma candidatura a deputado estadual. A liberação bilionária de recursos públicos em pleno ciclo pré-eleitoral reforça a suspeita de que a máquina estatal pode estar sendo usada como trampolim eleitoral da família Rocha.
Marcos Rocha já demonstrou habilidade em converter promessas em capital eleitoral, mesmo que jamais cumpridas. Ludibriou os eleitores em duas campanhas e, agora, parece confiar na mesma fórmula para garantir espaço no Senado. A dúvida que resta é se o eleitorado continuará aceitando ser enganado, ou se, finalmente, irá exigir mais do que promessas vazias embaladas em discursos moralistas e marketing político.
Neste jogo, quem perde é o cidadão, que ainda aguarda o hospital prometido, melhores condições na saúde e mais respeito com o dinheiro público. Enquanto isso, o especialista em enganar trouxa prepara sua próxima jogada.