Mudanças Climáticas Demandam Revisão na Política Fiscal
Com o aumento de eventos climáticos extremos, calcular os riscos associados a esses fenômenos se tornou essencial para a política fiscal. Essa é a avaliação de Nelson Barbosa, diretor de Planejamento e Estruturação de Projetos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ele destaca um estudo da ONU que estima que cada R$ 1 investido em prevenção pode economizar R$ 15 em recuperação pós-desastres.
“Esse cálculo não é simples. É difícil comunicar à população, mas a transição climática já chegou. Esse cálculo precisa ser feito e incorporado aos riscos fiscais de todos os países. Ele justificará a alocação de recursos”, disse Barbosa.
Desafios na Política Fiscal
Para Barbosa, a política fiscal enfrenta um cenário desafiador que exige mudanças na sua elaboração.
“Tradicionalmente, focamos no aspecto financeiro das metas anuais. Nossa Lei de Responsabilidade Fiscal inclui um anexo de riscos, muitos deles judiciais, mas também climáticos. Considerando a probabilidade de eventos extremos, gastar R$ 1 bilhão hoje pode economizar R$ 15 bilhões no futuro”, explicou.
Financiamento Climático
O tema foi discutido nesta terça-feira em uma reunião sobre financiamento climático na sede do BNDES, no Rio de Janeiro, como parte dos esforços da presidência brasileira do G20. O evento contou com representantes do BNDES, Ministério da Economia, Instituto Clima e Sociedade (iCS) e Finance in Common (FiCS), uma rede global de bancos públicos de desenvolvimento alinhada ao Acordo de Paris.
Maria Netto, diretora executiva do iCS, também enfatizou a necessidade de mudanças.
“Tradicionalmente, usamos dados históricos para tratar desses riscos, mas precisamos considerar cenários futuros”, observou. Ela mencionou que seguradoras em diversos países estão deixando de cobrir certas infraestruturas, o que pode resultar em grandes perdas econômicas.
Infraestrutura Resiliente
Netto mencionou as discussões sobre a recuperação do Rio Grande do Sul após enchentes recordes.
“Dois grupos de trabalho discutiram infraestrutura resiliente. Se não quisermos custos maiores no futuro, precisamos discutir resiliência não só na reconstrução do Rio Grande do Sul, mas em todo o país”, afirmou.
Bancos de Desenvolvimento e o G20
O G20 é formado pelas 19 maiores economias do mundo, além da União Europeia e União Africana. Desde 1º de dezembro de 2023, o Brasil assumiu a presidência do grupo. A Cúpula do G20 será realizada no Rio de Janeiro em novembro de 2024.
O financiamento climático é uma prioridade para a presidência brasileira, com propostas para reformar bancos internacionais de desenvolvimento e fundos verdes. Um tema relevante discutido no BNDES foi a criação de plataformas de investimentos para novos projetos.
Protagonismo dos Bancos de Desenvolvimento
Rémy Rioux, presidente da FiCS, destacou o papel dos bancos nacionais de desenvolvimento.
“Ainda não temos projetos de qualidade suficiente para serem financiados. A transição energética depende de investimentos adequados em nível local”, observou.
A FiCS foi criada em 2020 para promover a troca de informações entre bancos públicos de desenvolvimento. São 530 instituições identificadas, com US$ 23 trilhões em ativos e US$ 2,5 trilhões investidos anualmente.
Maria Netto ressaltou a importância do intercâmbio entre organizações climáticas e bancos de desenvolvimento.
“Eles têm um mandato público e conhecem bem o mercado privado. Precisamos atrair investimentos públicos e privados para cumprir as metas do Acordo de Paris”, concluiu.